A CoCriar tem estado bastante atenta a questões relacionadas à inclusão. Além do nosso Fundo Social – que nos acompanha desde o nosso nascimento e por meio do qual investimos em projetos sociais que têm a colaboração como processo – temos dado mais atenção em nossas facilitações a abrir intencionalmente espaços para vozes historicamente menos ouvidas, além de ofertar oportunidades para pessoas que podem trazer mais diversidade em nossos trabalhos e cursos. 

 A disponibilidade do acesso à internet tem sido um ponto de investigação, já que desde o início da pandemia passamos a facilitar processos online com os mais diversos públicos e sabemos que esse recurso não está igualmente disponível entre as pessoas no Brasil.  Como oferecer oportunidades de conversas assíncronas facilitadas, para pessoas que moram em zonas rurais e outros locais com sinal de internet intermitente?É sobre um experimento de conversa facilitada assíncrona que falaremos neste artigo.

 O Caso Prático

 Conduzimos um círculo de partilha de recursos de projeto – forma tradicional da CoCriar remunerar seus consultores, descrita neste artigo – por meio do WhatsApp. O desafio que nos colocamos foi o de utilizar somente os recursos que não dependam de uma transmissão de internet confiável – ou seja, mensagens de texto e de áudio que podem ser baixadas em bloco nos momentos de internet ativa.

 Escolhemos um assunto delicado e caro a todos os participantes para que o envolvimento se mantivesse durante todo o processo, mas também fizemos a escolha de que fosse um projeto que demoraria a pagar, para que pudéssemos expressar o melhor de nós, sem urgência.

 O círculo de dinheiro foi aberto com uma mensagem de texto com o seguinte teor:

Boa tarde a todos. Estamos prestes a iniciar uma conversa que por falta de outros meios, terá que se dar via mensagens e áudios no whatsapp. Isso exigirá de nós um cuidado e uma disciplina redobrada para não nos desconectarmos do propósito maior desse encontro – darmos voz e ouvidos a todos os que participaram do projeto para que resgatem a história dos acontecimentos, com suas luzes e sombras, com vistas a aprendermos com a experiência e oferecermos uma partilha de recursos condizente com o valor agregado pelas contribuições de cada um.

A metodologia que testaremos aqui (e caso não funcione está aberta a sugestões de ajustes por parte de vocês) é a seguinte:

1) Uma pergunta direcionadora será colocada em letras maiúsculas. Cada um poderá responder a essa pergunta norteadora utilizando texto ou áudio. Caso seja um áudio, utilize a figurinha do dedo apontado para cima seguida de um texto que diga brevemente a que questão o áudio se refere. 

 2) Antes da próxima pessoa responder, ela deverá fazer a leitura ou escuta com atenção, procurando um momento de tranquilidade e concentração para isto. Caso a resposta anterior tenha sido um áudio, é necessário que a pessoa que irá responder inicialmente faça um resumo por texto do que ouviu, para checagem de entendimento. Prezamos mais pela qualidade da resposta do que por sua agilidade. Antes de enviar, verifique se a resposta está clara, respeitosa e se traz a sua verdade. Sua verdade é muito importante para que possamos crescer juntos.

 Antes de colocar a primeira pergunta norteadora (sempre em letras maiúsculas) que guiará nossa rodada de respostas, gostaria de chegar se fui clara nas minhas orientações iniciais e se vocês precisam de mais algum combinado para se sentirem seguras em prosseguir nessa conversa. 🙂

 Com ele, pretendemos garantir 4 aspectos importantes para conversas significativas: a qualidade de presença, o foco, a escuta de qualidade e a colheita (registro dos pontos essenciais da conversa) visível e acessível para posterior processamento.

  O experimento se revelou muito bem sucedido nos aspectos da escuta de qualidade, e da colheita visível e acessível. Já os aspectos da qualidade de presença e foco na pergunta norteadora foram prejudicados por um fator que não foi inicialmente mapeado como de alto risco, mas que acabou por esfriar e alongar demais a conversa: os longos períodos sem resposta dos participantes. Numa próxima tentativa, procuraremos equilibrar melhor o combinado “Prezamos mais pela qualidade da resposta do que por sua agilidade”. Ambos precisam ser igualmente considerados para não gerar desconexão com o processo.

 Passo a passo para uma conversa assíncrona bem sucedida

A partir desta experiência, sugerimos que você passe pelos itens abaixo quando for facilitar uma conversa pelo Whatsapp.

1. Escolha o assunto da conversa
2. Confira se todos os participantes se sentem confortáveis em realizar a conversa de forma assíncrona 
3. Mapeie pontos de atenção que merecem combinados de comportamentos específicos. Alguns combinados são recomendados, independentemente do assunto, tais como  qualidade de presença, foco, agilidade, escuta de qualidade e forma de registro dos pontos essenciais.
4. Escreva uma mensagem de abertura que seja calorosa e convidativa ao diálogo e que também explique como a conversa se organizará e quais as ações e comportamentos esperados dos participantes – incluindo tempo máximo de espera por respostas.
5. Confirme se todos entenderam e concordam com as diretrizes estabelecidas, e se têm outros combinados a sugerir para se sentirem seguros para iniciar a conversa.
6. Realize a conversa em si
7. Caso a conversa emperre, procure organizar os conteúdos e dar o próximo passo, fazendo uma nova pergunta.
8. Ao sentir que a conversa se encerrou, faça um resumo dos highlights e cheque se é isso mesmo.
9. Convide todos a fazerem uma avaliação, compartilhando como se sentem ao término da conversa.

 Você já experimentou outras estratégias para facilitar conversas por Whatsapp? Se tiver dicas para compartilhar ou mesmo novos aprendizados a partir da implementação das sugestões que trazemos aqui, escreva para nós. Vamos gostar de ouvir a sua experiência.