Dentre as muitas aplicações do que chamamos de Práticas Colaborativas, uma possibilidade bastante interessante e relevante é a realização de consultas a públicos diversos sobre temas específicos. Escolhemos compartilhar aqui uma atuação recente da CoCriar em um contexto assim.
O Movimento pela Base Nacional Comum é um grupo não governamental de profissionais e pesquisadores da educação que atua, desde 2013, em forte parceria com o MEC (Ministério da Educação) promovendo debates, produzindo estudos e pesquisas, investigando casos de sucesso em vários países e entrevistando inúmeros alunos e professores, em busca de referências que possam nortear a elaboração de recomendações para o ensino fundamental e médio no Brasil.
Em 2015 o MEC atuou intensamente na elaboração de um documento que servirá de orientação para todas as instituições de ensino do país contendo as diretrizes curriculares para o ensino no país. Entitulado como “Base Nacional Comum” http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio, este documento pretende deixar claro os conhecimentos e habilidades essenciais aos quais todos os estudantes brasileiros têm o direito de ter acesso e se apropriar durante sua trajetória na Educação Básica, ano a ano, desde a educação infantil até o ensino médio.
Como acontece com diversas iniciativas deste porte no país, a primeira versão do documento foi submetida a uma consulta pública. Diante deste cenário, o Movimento pela Base Nacional Comum optou por mobilizar um processo coletivo de aporte de contribuições. Para tanto, convidou um grupo de 86 professores coordenadores pedagógicos, e especialistas das áreas do conhecimento do Brasil inteiro para fazerem uma leitura crítica do documento da Base Nacional Comum e tecerem comentários, respondendo a um questionário comum a todos.
A informação colhida a partir desta consulta individual a cada um dos profissionais foi analisada por uma equipe técnica que elencou temáticas muito centrais, cuja contribuição poderia ser muito melhor qualificada se os públicos pudessem interagir, construindo sugestões mais elaboradas, a partir de uma construção coletiva entre eles.
Por isto, no dia 08 de novembro de 2015, os mesmos 86 profissionais se reuniram em São Paulo para analisarem juntos a primeira versão da Base Nacional Comum e propor recomendações de melhoria para o documento. Com apoio da CoCriar, o encontro de Leitura Crítica, como foi chamado, foi planejado, com a aplicação de metodologias conversacionais e de captura de conteúdo, de forma a potencializar ao máximo a integração entre as contribuições dos profissionais de diversas áreas do conhecimento e também entre segmentos curriculares.
Este momento foi muito importante no processo da Leitura Crítica por evidenciar percepções comuns entre profissionais de categorias diversas, assim como contrapontos, em um processo dinâmico do qual saíram muito boas idéias, segundo a percepção dos próprios participantes.
A partir dos resultados do encontro de novembro, a equipe técnica da Base Nacional Comum elaborou uma síntese que foi encaminhada para o MEC, no âmbito da consulta pública.
O que se percebe em iniciativas assim, é que é possível ampliar ainda mais o valor de contribuições quando se adiciona ao processo de consulta individual, a possibilidade dos indivíduos acessarem-se uns aos outros, produzindo possibilidades que não são visíveis pelos indivíduos isoladamente.