Quando olhamos para o que está acontecendo no mundo, podemos dizer que a complexidade está escalando a montanha. Não diria que as coisas estão mais complexas, mas que talvez tenhamos, como sociedade, maior capacidade de perceber as complexidades à medida que nossa vida fica impactada de forma mais visível por problemas que não vão desaparecer com medidas ‘quick fix’.
Para explorar estes temas e encontrar novas formas de interagir entre nós e com o mundo, nós como sociedade precisamos de um bom tanto de percepções juntas. O ato de criar espaços e oportunidades para pessoas aprenderem e agirem juntas está aumentando, e isso é o que está presente no livro que estava lendo recentemente: The Collaboratory.
The Collaboratory é uma ideia nascida de uma visão para o futuro da educação de lideranças empresariais, mas uma que ideia que reflete os momentos de mudança da sociedade como um todo. A capacidade de co-criar e colaborar está sendo vivenciada como a forma de movermos positivamente adiante em provocar mudança.
O livro pega seu nome desta iniciativa e encontra muitas outras que dividem estes princípios.
Ele vem para consolidar a prática de colaboração entre atores para mudança em um momento onde as metodologias e processos para engajamento de atores está mais estruturada e disseminada e quando muitos praticantes estão refletindo e agindo para criar espaços que endereçem temas complexos tanto em organizações quanto na sociedade.
No livro encontrei histórias de como iniciativas tem evoluido ao redor do mundo, junto com diferentes dimensões de colaboração e exemplos de espaços e processos que trazem mudança social. Encontrei colegas e professores conhecidos entre os autores, mas também encontrei novos colegas e iniciativas que não conhecia. E tenho certeza de que se trata de uma pequena amostra, existem certamente iniciativas suficientes para pelo menos meia dúzia de outros livros.
Dividido em quatro partes, o livro engloba uma gama de autores vindo de lugares como a Society of Organisational Learning [veja sobre a SoL no Brasil], uma NGO com sede na Suíça e o movimento 50+20, iniciativa que inspirou o nome do livro.
Autores mostram suas iniciativas e insights em como identificar, convidar, desenhar e ser anfitrião de uma jornada de colaboração para tratar de problemas complexos. O livro, mais do que uma coleção de artigos, está bem estruturado e parece ser uma exploração co-criada de pessoas trabalhando diretamente para reestruturar processos de mudança na direção de jornadas de colaboração.
Chamando de DesignShop, SocialLab, Transformative Scenario Planning e trabalhando com processos de base como Appreciative Inquiry, o Art of Hosting e Theory U, muitos dos autores dividem premissas como:
- a ideia de uma jornada transformadora que traz o novo através da cooperação e atenção ao processo ao invés da competição e criação de produtos;
- a importância de facilitar espaços colaborativos que se parecem mais com uma jornada engajante do que um evento de tomada de decisão;
- ser algo sobre métodos e padrões de criar espaços e convidar pessoas para mudança colaborativa com a mão na massa;
- existem requisitos e condições para que os collaboratories possam funcionar, baseados em experiência prática, mas não existe uma lista a ser ticada;
- encontros trabalham com soluções emergentes vindo de pessoas engajadas no assunto ao invés de esperar a solução de problemas vindo de especialistas de fora;
- transformação vem de prototipar soluções e não somente de sessões de análise e brainstorming.
As últimas partes do livro mostram exemplos de collaboratories ao redor do mundo e aplicações em diversos setores da sociedade, seguido de uma seção que explora como desenhar um collaboratory e o que muda no papel do facilitador para estar em um espaço como este.
O livro está disponível em inglês pela Greenleaf Publishing. Mais informações, também em inglês, no website do livro.