fbpx
Autoconhecimento, tolerância com os erros, conflitar com respeito
Este artigo é um entrevistado da série Gestão com Envolvimento, que nos dá a oportunidade de conhecermos líderes que acreditam no diálogo e no engajamento para alcançar os melhores resultados.

Protagonistas em suas áreas de atuação, estes homens e mulheres lidam com diversas pressões internas e externas, mas ainda assim optam pela abordagem colaborativa para lidar com seus desafios.

Denise liderou diferentes áreas nas empresas Unilever e Natura, tais como: Marketing, Cultura Organizacional, Gestão de Negócios. Depois de 23 anos em empresas, ela empreendeu e hoje é sócia-fundadora da GOM Sustentabilidade, desenvolvendo estratégias sustentáveis para clientes. Nessa entrevista, ela compartilha um pouco sobre sua trajetória e suas descobertas sobre o que é ser um bom líder.

Conte um pouco sobre quem é Denise Alves?

Uma pessoa comum. Sou mineira, perdida em São Paulo há 26 anos, engenheira química de formação, mas que nunca exerceu a profissão. Comecei minha carreira como trainee na Unilever, onde trabalhei por 7 anos. Depois fiquei mais 16 na Natura, passei por várias funções em Marketing, Vendas, Inovação até que me encontrei em Sustentabilidade. Hoje estou em um projeto para a construção de uma agrofloresta, o que tem me feito um enorme bem. Encontrei o que realmente quero fazer nos próximos 20, 30 anos.

 Quais foram seus principais desafios como líder?

Há uma diferença entre ser líder e ser gestor. Não me considero uma líder. Há uma grande diferença entres os dois. A palavra líder é utilizada hoje de forma bem genérica.

Gerir já é muito difícil. Pra mim, o bom gestor é aquele que consegue ser verdadeiro, que consegue dar feedback, falando exatamente o que precisa ser dito, para que o trabalho seja feito com excelência, sem desmotivar o colaborador. O bom gestor é aquele que desenvolve as pessoas, dando suporte para elas irem além; que olha o negócio tanto da perspectiva financeira quando da social e ambiental; que mostra a direção, mas está aberto a todas as contribuições mesmo que soem contrárias à dele. Tudo isso é muito difícil.

Eu fui jogada para ser gestora sem a menor preparação. A maioria das empresas não preparam os seus colaboradores para serem gestores, um cargo que exige, sobretudo, muito autoconhecimento.

O que mais você foi aprendendo na prática sobre liderar?

Aprendi que é preciso ter humildade. Ter a capacidade de dizer: – Eu não sei. Me explica ?

Para isso, é preciso estar mais seguro de si, ir se trabalhando internamente, desenvolvendo sua autoestima. Para ser gestor é necessário fazer muita terapia (risos). Tem que se trabalhar para não agir a partir das suas inseguranças, dos seus medos.

Tem uma frase que acho fenomenal do ex Presidente do Estados Unidos, Abraham Lincoln (EUA, 1806 – 1865). Dizia: “Eu não gosto daquele sujeito, eu preciso conhecê-lo melhor”. Isso tem relação com a forma que ele lidava com a sua própria sombra, com o que ele projetava nos outros. É necessário buscar autoconhecimento para conseguir se relacionar bem e desenvolver pessoas.

É fundamental, também, ser tolerante com o erro. As pessoas não podem ter medo de contar para você o que deu ou pode dar errado, ou que você está errado. Existem culturas organizacionais que não permitem o erro, e massacram os mensageiros de más notícias. Errar é humano, o que não pode acontecer em uma empresa é se esconder o erro ou não se aprender com ele.

Um outro aspecto relacionado com este é saber ouvir diferentes perspectivas. Um líder deve ouvir os diferentes posicionamentos do seu time com a mesma abertura, mesmo que sejam diferentes do seu. E tomar a melhor decisão baseado no que ouviu. Isto dá trabalho, requer paciência.

Como cultivar a curiosidade?

Não sei se curiosidade se cultiva. Acho que ou se nasce com ela ou não, não sei se ela pode ser cultivada ou aprendida. Acho que curiosidade está ligada ao seu amor pela vida. Quando se ama a vida, se quer sorvê-la e então torna-se curioso.

Eu me considero uma pessoa curiosa, inquieta, talvez agora menos, já fui mais. Mas acho importante ser curioso, sair fora da sua bolha, conhecer realidades diferentes da sua. Isso te ajuda a ser mais criativo, a compreender melhor as pessoas, a se colocar mais no lugar do outro. Os livros me alimentam muito, mas só livros não basta, é preciso viver o diferente, é preciso viajar, ter diferentes experiências.

Como você lida com pontos de vista contrários ao seus, quando eles chegam na forma de conflito?

É preciso saber conflitar sem brigar, com respeito. Às vezes, eu me empolgo demais na discussão e sou muito transparente, transparente até demais. As pessoas não estão muito acostumadas com verdades explícitas. Um diretor de RH da Unilever uma vez me disse que minha honestidade era proletária. Na época, não entendi e hoje dou muita risada quando lembro disso. Minha energia e objetividade é confundida com agressividade. Ainda assim, acho que dou abertura para as pessoas conflitarem comigo, nunca tive problemas com colaboradores discordarem de mim e me ajudarem a construir uma solução melhor do que a que eu havia pensado. Muitas vezes, por ser franca demais, por ser muito direta, eu acho que posso ter gerado medo em um colaborador mais júnior. Isso não é bom.

Respeito é um valor fundamental. Precisamos ter cuidado com as pessoas; entender que você está trabalhando com seres humanos, e não com recursos humanos. Difícil ver isso no mercado.

Você falou um pouco antes sobre tolerância ao erro… todo erro precisa ser tolerado?

É importante não punir o erro. Errar todo mundo erra, não tem jeito. Se você tolhe o erro ninguém se arrisca e é difícil haver inovação em um ambiente assim. Mas é importante saber distinguir o que foi erro, o que foi negligência.

Deveríamos ter disciplina para analisar cada erro e aprender com ele. Este seria o mundo ideal. Acho difícil acreditar que as pessoas errem porque queiram errar.

Que gestores são referências para você?

Até hoje não passou pelo meu caminho nenhum ser que reúna todos os aspectos que acredito serem valiosos para um líder.  Segundo a história, Abraham Lincoln era este cara, mas ele não passou pelo meu caminho então não posso afirmar. O João Paulo [Ferreira], atual CEO da Natura, foi um dos melhores gestores que já tive. Ele é focado, objetivo, joga junto, gostei muito de trabalhar com ele.

O que você tem observado nesse período de quarentena? Os gestores estão sabendo gerir?

Eu acho que as empresas estão muito doentes. O que ouço é que as pessoas estão trabalhando mais do que nunca durante a pandemia. Não me admira. Ela só veio agravar a crise econômica do país. Atualmente, estou em um trabalho de pesquisa muito específico e, portanto, não estou sentindo esta onda, da forma que os executivos estão sentindo. Mas que deve ter muito gestor controlador sofrendo, isso deve (risos).

Leia mais entrevistas da série Gestão com Envolvimento
https://cocriar.com.br/tag/gestao-com-envolvimento/

Share This