Muitas vezes recebemos convites para atuar com clientes que não tem os meios de custear nosso trabalho. Para atender a essa demanda que existe o fundo social da CoCriar. Trata-se de uma porcentagem dos pagamentos de todos os nossos projetos destinada a garantir que possamos apoiar iniciativas de valor.
Foi através da nossa rede de facilitadores em democracia profunda e financiados pelo Fundo Social da CoCriar que tomamos o rumo de Canudos, no sertão da Bahia. O convite foi para intervir no projeto Cinema Itinerante de Canudos, uma iniciativa nascida dos cineastas Mendel Hardeman e Susanne Dick, diretores de “O Mar de Antônio Peregrino”, um documentário que conta a história das pessoas de Canudos.
Contexto histórico de Canudos
Foi o peregrino Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro, quem primeiro olhou com atenção para o povo pobre do sertão da Bahia. E lá no final do século XIX, a cidade de Belo Monte causou medo naqueles que não entendiam os propósitos daquela comunidade essencialmente colaborativa, o que acabou levando à guerra.
Cravada no fundo de um vale no arraial de Canudos, o povoado liderado por Antônio Conselheiro despertou o medo nos mais altos líderes dos Estados Unidos do Brasil, a recém fundada república federativa. Quem sabe um pouco de história, conhece como terminou a saga de Conselheiro. Foram cerca de 25 mil sertanejos e mais cinco mil soldados mortos. E sobre os escombros da guerra, mais tarde se fez da cidade um açude. Mas até hoje, descendentes dos antigos moradores ainda vivem na terra por onde andou Antônio Peregrino.
O filme se torna um projeto de transformação
Foi entre os anos de 2007 e 2013 que os holandeses Mendel Hardeman e Susanne Dick fizeram o seu documentário sobre Canudos. “O Mar de Antônio Peregrino”, tal como o líder que inspirou o filme, os criadores peregrinaram pela Europa em exibições abertas, solicitadas de forma independente e divulgadas de boca a boca.
Mas era preciso também garantir que a história contada na tela trouxesse impactos positivos para a comunidade retratada no filme, ameaçada pela falta de oportunidades de trabalho para os jovens que estava levando a um crescente êxodo rural dessa população.
Por meio de uma campanha de crowdfunding na Europa, Mendel e Susanne conseguiram os recursos necessários para apoiar a comunidade que protagonizou seu documentário. O objetivo foi constituir um projeto de geração de renda para a comunidade por meio do cinema. A iniciativa teve sucesso durante um período, mas esbarrou em diversas dificuldades institucionais e de relacionamento. Ferramentas de diálogo e de resolução de conflitos se fizeram necessárias.
CoCriar no sertão da Bahia
A falta de engajamento da comunidade com o projeto era real, o que fez com que todo o trabalho da CoCriar fosse conduzido com poucas pessoas. Foram diversos processos conversacionais que levaram a compreensões coletivas e novos combinados, passando por rodas de feedback e sessões de coaching com o fundador do processo. O processo de facilitação propiciou que os relacionamentos voltassem a fluir.
Ao final de uma semana com a equipe núcleo do projeto – os remanescentes 3 integrantes – houve um movimento de reengajamento no projeto e a rede chegou a 15 pessoas num intervalo de 15 dias. Empoderadas pelo processo conversacional, Delma e Josineide assumiram a frente do projeto e se tornaram responsáveis por garantir que projeto Canudos Vive, nascido como Cinema Itinerante de Canudos, mas que tem hoje outras frentes e propostas, continue a acontecer.
Os desafios estão postos na busca da sustentabilidade financeira e o enfrentamento dos diversos entraves operacionais existentes na operação. Após o processo de conversas a comunidade segue com mais condições de contar uns com os outros para superar esses desafios.