Termina mais um dia sendo anfitrião de práticas colaborativas junto a um grupo de pessoas.
Quando se julga que tudo foi bem
Nestes trabalhos, quando as coisas vão bem, pode ser que o ego convide para que sonhemos que esse sucesso tem a ver com quão maravilhoso é nosso trabalho e quão bem estávamos hoje.
A experiência nos mostrou que sucesso com grupos não é resultado nosso: as pessoas são mesmo boas trabalhando juntas.
Ao mesmo tempo, em muitos casos, nosso trabalho é essencial como um instrumento para sustentar a experiência de colaboração. Essencial somente para nos atentarmos de que possíveis padrões de controle e hierarquia excessivos estão voltando a emergir. Normalmente eles aparecem em conversas supostamente colaborativas, mesmo sem termos consciência, porque são padrões aprendidos e revisitados por tantas vezes que por fim ressurgem como um hábito.
Quando se julga que não foi assim tão bem
Quando as coisas não vão assim tão bem podemos escolher o caminho de carregar tudo nas costas e culpar nossa incompetência ou inabilidade – muito do mesmo comportamento “o resultado tem a ver comigo”.
Ou ainda podemos culpar uma fonte externa como responsável pela insuficiência. Assim, por vítima que somos, não temos culpa de nada.
Ambas as escolhas carregam em si um pressuposto que simplifica as relações de causa e efeito, relações nas quais é possível encontrar algo ou alguém para culpar e, claro, consertar.
Em todo caso
No fim, sabemos que o resultado não tem a ver conosco e que ao mesmo tempo temos um papel essencial nele. Somos insignificantes em relação ao que vai se desenrolar e também essenciais por criarmos contexto e container para o processo.
Contexto, Container e Conteúdo
O trabalho do anfitrião de práticas colaborativas consiste em agir procurando o entendimento, escolhendo as condições necessárias às conversas que precisam acontecer e também prestando atenção enquanto o processo se desenrola.
Podemos olhar para ele através de 3 Cs: Container, Contexto e Conteúdo.
O encontro começa antes do encontro
Antes mesmo de encontrar com o grupo face a face, estamos em plena atividade criando contexto e container para a conversa, normalmente ativos com um bom tanto de trabalho prévio, algumas entrevistas para adquirir a linguagem, uma boa ponderação de espaço e estrutura, etc.
Aqui, ainda que a energia esteja diluída, é onde 80% da quantidade de trabalho acontece. Contexto e container serão uma parte importante do trabalho mais para frente.
Foco do evento conversacional
Quando finalmente nos encontramos é hora de aplicarmos a arte de estarmos presentes e escutarmos profundamente tanto o flutuar do contexto quanto o desenrolar do conteúdo – seja este expresso em emoções, ações ou conceitos. Esse momento é intenso energeticamente, mas contém menos trabalho quantitativo.
Uma pessoa de fora não vê muito sendo feito, já que muito do nosso trabalho é ficar ali parado, prestando atenção.
E todo o conteúdo que colhemos juntamente com o grupo está conectado a todos os presentes e também ao contexto e o container criados. É um resultado em colaboração.
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