A certeza de que é muito difícil colocar grandes quantidades de pessoas para conversar juntas provocou, ao longo da história das organizações, um padrão. Poucas pessoas – geralmente os líderes – se reúnem e criam algo, para então comunicar ou disseminar para os demais envolvidos no assunto em questão.
Este artigo discorre sobre algumas razões pelas quais acreditamos que esta, na maioria das vezes, não é a melhor escolha.
- Maior diversidade de pontos de vista produz soluções mais sábias.
Muitas das resistências à mudança que processos de disseminação em geral enfrentam podem ser facilmente explicados pelo não reconhecimento de que aquela seja, de fato, uma solução que considerou todos os impactos, desafios e aprendizagens já conquistadas por quem lida com os problemas na prática no dia a dia.
A impossibilidade de harmonização das resistências se agrava uma vez que os momentos de disseminação não são planejados para oferecer espaços de diálogo e revisão das propostas.
Neste contexto, pessoas engajadas em explicitar os problemas que enxergam na solução criada são vistas como rivais com as quais será preciso lidar durante o processo de disseminação.
Estes são indícios de processos que privilegiam soluções menos sábias, ou seja, menos amadurecidas pela inteligência coletiva.
- Posicionamentos defendidos no momento da criação conjunta tendem a ser melhor recebidos.
Uma relação de poder muito específica se estabelece no momento em que se decide disseminar um conteúdo. Automaticamente é criada uma separação entre aquele que sabe e aquele que não sabe, entre aquele que “procurará explicar” e aquele que possivelmente “não irá entender”.
Se por um lado os responsáveis pela disseminação receberão as falas da audiência já com o rótulo de “não saber”, por outro as explicações e defesas dos conteúdos serão recebidas pela audiência como imposições vindas de quem tem maior poder.
E assim, uma relação que poderia ser fértil em aprendizados para ambos os lados se torna uma relação desconfortável de aceitação forçada e de resistências muitas vezes veladas.
- Uma construção verdadeiramente participativa conta com maior número de defensores.
Envolver pessoas de diferentes setores e hierarquias numa construção coletiva de fato, ao mesmo tempo que produz soluções mais sábias, também deixa, ao provocar no participante a ampliação de seu próprio entendimento sobre as questões tratadas, esta certeza e confiança.
Ter embaixadores de uma ideia espalhados pela organização, conversando com pares, chefes e subordinados, é um excelente e qualificado reforço de disseminação para a iniciativa.
- Quem cria junto entende melhor e ajuda a garantir que a essência da criação não se perca.
Em se tratando de uma criação externa, por maior que seja o esforço de retenção das informações e incorporação de práticas, existe o risco de incorrer em distorções. Isso porque os princípios e pressupostos que guiaram a construção nunca serão explorados na mesma profundidade numa fase de disseminação.
Da mesma forma como cocriar gera defensores das ideias, gera também profundos entendedores destas, prontos para atuar como guardiões da essência do que foi produzido conjuntamente.
- O processo de criação conjunta é motivador em si.
Ao pensar numa disseminação, uma das preocupações sempre presentes é “Como motivar as pessoas a fazer da forma como estamos pensando?”.
Quando se cria junto, o próprio processo motiva. Na experiência da CoCriar há casos emblemáticos de colaboradores hospedados em locais paradisíacos que optaram por permanecer nos grupos de trabalho mesmo tendo a opção de aproveitarem as atrações oferecidas pelo hotel. Simplesmente porque estavam envolvidos e acreditando que, juntos, conseguiriam resolver um problema significativo.
- É possível colocar dezenas e até centenas de pessoas para conversarem juntas de forma produtiva.
O motivo pelo qual se desiste cedo demais de envolver um número e uma diversidade maior de pessoas na compreensão e resolução de uma determinada questão – a crença de que esta será necessariamente uma conversa difícil – pode ser uma generalização equivocada.
É claro que para tanto são necessárias metodologias apropriadas e um cuidado na preparação da conversa condizentes com o desafio.
Cocriar quando temos uma questão significativa complexa (aquelas que uma pessoa sozinha ou um único ponto de vista nunca conseguiria resolver) tem, sim, um efeito colateral: depois de experimentar fica muito difícil voltar ao jeito tradicional de promover mudanças.