Trabalhando com processos participativos experimentamos muitas situações em que o que convida o encontro carrega uma quantidade imensa de inquietações e pouca clareza de propósito. É muito comum que se queira saciar muitas vontades em um só espaço, utilizar o encontro para “matar dois coelhos” ou solucionar uma questão mais complexa.
Ao trabalharmos com a expectativa e a ansiedade de se criar e anfitriar um encontro, podemos entender o quanto isso é real quando nós estamos envolvidos em criar um evento que seja único. Imagine seu próprio casamento, por exemplo, sempre um mar de ansiedades. É possível que a pessoa que ajuda os noivos a organizá-los use a energia assim: 70% (ansiedade dos noivos), 20% (ansiedade dos fornecedores), 10% (Logística e preparação).
Fato é que estamos lidando com expectativas e ansiedades naturais. Para trabalhar com clareza, precisamos fazer algumas distinções importantes.
De Inquietações ao Propósito
A primeira parte do trabalho é sempre mais cuidadosa, e as vezes mais longa, do que as demais. Clarificar o propósito para nós mesmos e para as pessoas com quem estamos trabalhando é fundamental porque gera as condições de contorno da jornada que em seguida vamos criar.
Muitas vezes o propósito não está claro, é ambíguo ou, pior, são vários. A ansiedade aumenta também quando explicitamos este fato – a sensação parece ser de que voltamos à estaca zero ao redefinir o porquê de tudo.
Ceder a essa ansiedade e assumir que está tudo ok é uma armadilha que muitos de nós já experimentamos em mais de uma ocasião. Seja no começo da conversa ou no meio, agarrar no tronco de um bom propósito é fundamental.
Condições para Criação Coletiva
Para darmos espaço para a criação de caminhos coletivos, é essencial esclarecer a direção almejada . A definição e clareza de propósito nos permite desviar a rota de acordo com os acontecimentos e ainda assim caminhar na direção que queremos.
A clareza inicial previne ter que formular direção durante o processo, o que gera frustração geral: “como assim? convidaram para participar, mas por esse caminho não pode?” Deixar explícita a direção gera as condições para que os próprios participantes definam os caminhos que fazem ou não sentido.
Uma das riquezas de encontros abertos é justamente a capacidade de se adaptar ao que vai sendo criado, trilhando caminhos que ainda não foram mapeados. O papel do anfitrião é dançar com as mudanças de caminho e trazer consciência de mudanças que afetam a direção que se imaginou no começo de tudo.
Propósito na Voz do Participante
Depois de criada a clareza entre quem anfitria, é chegada a hora de receber os participantes da jornada. Aqui também é essencial que se revisite o entendimento de propósito.
Em situações complexas em que múltiplos atores estão envolvidos e carregando suas inquietações particulares, é natural que, por mais que se clarifique o propósito no ato de convidar, ainda assim cada um fantasie o seu próprio.
Explicar o porquê de estarmos juntos logo no começo da jornada ajuda, mas o melhor mesmo é abrir um espaço inicial para que os próprios participantes possam explorar consigo mesmos o porquê de estar lá. Ao articular o propósito na voz do coletivo, permite-se um alinhamento e uma checagem de destino antes da partida.
Checklist Clareza de Propósito
- Transforme inquietações em um propósito claro e único.
- Cuide para que exista tempo suficiente para atender ao propósito definido.
- Na hora, preste atenção.