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O papo furado deveria ser banido – eis o porquê

A conversa furada prevalece por conta da necessidade de encontrarmos um tema socialmente aceitável. Mas quando ela sai de cena, o jogo muda.

Por Kristen Berman e Dan Ariely

Você pode entrar no texto original acessando aqui 

Tradução livre por Pedro Limeira

Qual é a sua relação com Deus? O que é algo que você teme na vida? Esses parecem ser tópicos incríveis para uma conversa, mas raramente nós nos permitimos entrar neles em nossas reuniões sociais. Em vez disso, as discussões orbitam ao redor de planos de viagem para o verão, o último episódio tenebroso que aconteceu enquanto consertava-se algo e, é claro, o clima.

Isso é uma pena, porque pesquisas confirmam o que a maioria de nós sabe, mas não pratica: conversas furadas são superficiais e não reforçam as relações, o que não contribui para nossos níveis de felicidade. Daí, uma questão óbvia: se não é bom para nós, por que é que ela continua dominando as conversas?

A resposta triste é que nós ativamente procuramos o mínimo denominador comum. Quando temos a liberdade para discutir o que quisermos, também sentimos a pressão de escolher um tema que é socialmente aceito e simples para que qualquer um participe – os velhos conhecidos das conversas furadas.

Para entender melhor esse problema de coordenação social e o que podemos fazer a respeito disso, nós organizamos um jantar. Normalmente, os jantares envolvem dois problemas de coordenação social. O primeiro é o horário de chegada: se todos chegarem em horários diferentes, a festa parece sempre estar em fluxo – “começando a esquentar” ou “próxima do fim”. O segundo problema é o de temas de conversa: ninguém assumirá o risco social de falar sobre questões pessoais complexas com quem acabou de conhecer. A alternativa é a conversa superficial que não muda a vida de ninguém.

De acordo com um estudo de 2010 realizado pela antropóloga Kate Fox na Inglaterra, mais de 9 de 10 pessoas admitem ter falado sobre o clima nas últimas 6 horas. Por volta de 38% dizem que falaram sobre isso na última hora. (E quando foi a última vez que você ouviu alguém dizer “Adoraria que nós tivéssemos mais 45 minutos para aprofundar no tema de condições climáticas”?)

Para nos ajudar a combater o problema de coordenação, adicionamos uma variável simples a esse jantar – regras. 1) Aparecer entre 19h30 e 20h. Se não puder chegar até às 20h, não venha. 2) Sem conversa furada. Apenas conversas significativas são permitidas.

Essas regras restringiram algumas liberdades individuais para permitir melhores resultados para o coletivo. Noventa por cento dos convidados confirmaram presença durante o dia e muitos deles pediram esclarecimento sobre as regras: “O que exatamente é conversa furada? Esportes? Viagens? Meu trabalho?”

Além de terem ficado curiosos a respeito das regras, gostaram de tê-las – e ninguém quis quebrá-las.

Às 19h30, na noite do jantar, estávamos sentados e esperando a chegada dos convidados. Às 19h45, estávamos nervosos. Ninguém havia chegado. E só restavam 15 minutos.

Às 19h46, a campainha tocou. E não parou até às 19h54. Vinte e cinco convidados chegaram. Os últimos dois chegaram às 20h05 e, depois de algum conflito interno, permitimos que eles entrassem. O benefício de termos o grupo todo junto desde o início ampliou a experiência para todos.

A seguir, a segunda regra foi acionada. Para ajudar a coordenar a conversa, preparamos cartões grandes com exemplos de inícios de conversas significativas. Os 27 convidados, de gêneros diversos, discutiram se era pertinente e como exigir transparência dos servidores públicos por suas ações. Descobrimos quem (além de nossos cônjuges) nos doaria um rim caso precisássemos de um. Debatemos a teoria da prevenção de suicídio. Falamos sobre a arte da dominatrix.

No meio do evento, algo interessante aconteceu. Escutamos: “Ei! Isso aí é conversa furada?” Os convidados não apenas aceitaram as regras, mas também aplicaram-nas. Em vez de diminuir a liberdade, as pessoas pareceram mais livres para falar sobre as coisas que eles realmente gostariam de falar.

Ao estabelecer uma regra comum para comportamento nós criamos um ambiente com um novo conjunto de normas sociais que redefiniu os interesses individuais mais fortes. E todos estavam mais felizes. Como indicador de sucesso, dois encontros foram marcados depois do jantar. Será que conversas significativas nos tornam mais atraentes?

A ideia básica é que se todo indivíduo é livre para agir como deseja, a combinação desses comportamentos individuais pode ser sub-ótima para o grupo.

Em situações em que indivíduos normalmente tem liberdade, a coordenação social, em alguns aspectos, provavelmente trará benefícios surpreendentes. Então no seu próximo jantar, lembre do vinho, da música e das regras.

Dan Ariely é Professor “James B Duke” de Psicologia e Economia Comportamental na Duke University e Kristen Berman fundou o Irrational Labs, uma consultoria de comportamento sem fins lucrativos, ao lado de Ariely.

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