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Premissas das Práticas Colaborativas

Esse mês vamos falar um pouco das premissas que embasam o nosso trabalho com as práticas colaborativas e que, assim como a nossa conseqüente abordagem prática, focam em aspectos qualitativos e nos processos. São elas:

1. Transformação social em sistemas complexos
2. Inteligência coletiva para a inovação
3. Engajamento, protagonismo e empoderamento como forças motrizes
4. Colaboração, cocriação e formação de comunidades de prática
5. Profundidade e simplicidade

A seguir detalhamos um pouco o que entendemos por cada uma dessas premissas e de que forma elas imprimem inovação a todos os processos que procuramos propor.

1. Transformação social em sistemas complexos

Segundo Adam Kahane, no livro “Como resolver problemas complexos”, um problema pode apresentar três tipos de complexidade: a complexidade dinâmica (quando causas e efeitos são distantes no tempo e no espaço); a complexidade geracional (quando a situação com a qual alguém se depara é absolutamente nova e nada do que já foi feito pode ser aplicado como solução); e a complexidade social (quando há atores com diferentes interesses, perspectivas e entendimento sobre os assuntos em análise).

Transformações sociais são, invariavelmente, processos que lidam com um ou mais desses aspectos de complexidade e, por este motivo, devem ser entendidos como processos de longo prazo, que devem ser profundamente compreendidos e sustentados ao longo do tempo.

Na maioria dos casos, enxergamos nossos trabalhos como processos de transformação social (ou de mudança cultural) em sistemas complexos. Sendo assim, nossas propostas:

a. apresentam-se como iniciadoras de uma caminhada de mais longo prazo;
b. prevêm um processo de aprendizado e formação de rede, subjacente ao trabalho de diálogo e construção coletiva, envolvendo e conectando atores diversos.

2. Inteligência coletiva para a inovação

A CoCriar acredita na inovação como consequência do acesso à inteligência coletiva em torno de uma determinada questão, do encontro entre conteúdos e saberes que estavam separados até então.

O aporte de conteúdos através de estudos acadêmicos ou pela presença de especialistas é uma das formas de juntar saberes. No mesmo nível de importância colocamos a escuta profunda de outros atores do sistema, com outras perspectivas e pontos de vista – lembrando que “um ponto de vista é a vista de um ponto”. Este processo divergente, se bem conduzido, amplia a compreensão e expande possibilidades até chegarmos ao ponto em que os atores presentes não reconheçam mais as certezas que tinham no início do processo. Este é o terreno fértil para a inovação, em que as ideias e soluções serão construídas a partir de um novo ponto de partida. Em seguida conduzimos o processo para uma convergência, avaliando e selecionando as novas soluções, levando a resultados inovadores.

Por isso apresentamos propostas predominantemente baseadas em processos de diálogo e construção colaborativa, de forma que a diversidade de pontos de vista (ou “o sistema representado dentro da sala”) seja um valor para a construção coletiva, assim como as experiências vividas por todos em situações diversas que ofereçam informações relevantes para a questão.

3. Engajamento, protagonismo e empoderamento como força motriz

Acreditamos no poder da automotivação e dos “chamados por propósito” como critérios para a escolha de atores-chave para participar em qualquer processo.

Os processos que conduzimos prevêem a criação de situações que promovam a aproximação espontânea de pessoas que tenham ligação com o tema trabalhado, e que também se identifiquem com formas inovadoras de interação em contextos de transformação social.

A partir dessa aproximação, caso necessário, pode haver um processo de seleção objetivo, que identifique modelos mentais, habilidades e competências mais alinhados para a condução dos trabalhos. Também é importante a atenção para identificação de aspectos que levem ao desengajamento precoce.

Também nesse momento de seleção valorizamos o poder da inteligência coletiva, ou seja, a indicação legitimada pelos grupos para a melhor composição de atores-chave.

4. Colaboração, cocriação e formação de comunidades de prática

A sustentação de processos no longo prazo tem maiores chances de acontecer quando não depende de indivíduos isoladamente. A existência de grupos de trabalho, parceiros e redes favorece a compreensão conjunta das situações enfrentadas, a criação de novas estratégias e a reflexão e aprendizado contínuos – o que nutre e une os indivíduos para prosseguirem na caminhada.

Com essa intenção, normalmente sugerimos o envolvimento de um grupo diverso no time núcleo de um projeto (não apenas consultores externos a organização ou sistema), e a realização de encontros entre os atores-chaves para contribuírem na gestão do processo. Isso quebra em parte as noções de “centralidade”/”hierarquia” e favorece a responsabilidade compartilhada, o engajamento e o cuidado mútuo, de forma a criar uma rede mais ampla de apoio, de aprendizagem e trabalho conjuntos.

Acreditamos que qualquer proposta de projeto inovador que não esteja fortemente assentada em fortes relações construídas tem poucas chances de sucesso. Projetos não são independentes das pessoas que os sustentam e que são parte de sua construção em algum nível. Quanto mais pudermos maximizar o envolvimento de todos os atores-chave, desde a concepção até a realização, mais fortalecida ficarão a iniciativa e as pessoas que dela participarem.

5. Profundidade e simplicidade

Entendemos que são mudanças sutis que fazem uma grande diferença: a escuta profunda, as falas vindas do coração, as conversas sobre o que realmente importa, o olhar apreciativo para cada pessoa e seu potencial único de contribuição, a presença de qualidade no aqui e no agora, a empatia, a abertura para a mudança.

Por isso trabalhamos com metodologias e linguagem que permitem a aproximação entre as pessoas, considerando movimentos de expansão (grupos abrangentes, maiores) e a contração (grupos específicos, menores), bem como o diálogo entre eles. Mas, acima de tudo, é importante que a CoCriar e também a equipe do cliente, como anfitriões dos trabalhos, estejam profundamente imbuídos e continuamente praticando as mesmas atitudes esperadas dos participantes, descritas acima. Em suma, que estejam em relações verdadeiras e humanas, influenciando e sendo influenciados, durante todo o processo.

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